domingo, 19 de outubro de 2008
austenômetro
Precursora do que mais tarde seria conhecido como "comédias românticas caça-marido", a pobre autora inglesa Jane Austen, como Albert Einstein, não tinha idéia do que estava criando. Por esse mesmo motivo, e talvez com um desejo secreto de perturbar o sono eterno desta que foi a autora inglesa mais importante do século XIX (não venha com Emily Dickinson pra cima de mim!), muitos, muitos filmes foram produzidos por roliúde a fim de abalar a sua reputação. Como o amor não tira férias, nós fazemos hoje um serviço para a humanidade listando algumas dessas bizarrices:
Austenômetro: uma qualificação apurada das adaptações de Jane Austen para o cinema, em ordem crescente de bizarrice:
Razão e Sentimento:
Esse filme é a melhor adaptação que eu vi. Foi, inclusive - apesar de que isso não significa muita coisa - Oscar de melhor roteiro em 1995. Acho que a Emma Thompson deve ser uma viciada em Austen desde criança: a primeira versão do roteiro ficou maior que o livro. Deve ser por esse motivo que respeitou as coisas mais importantes em um romance áustenco: a protagonista tem que ser uma quase coroa, no limite de "ficar para tia", a solterice dela, visualmente, tem que ser uma coisa que incomoda todos os padrões sociais. Em suma, uma heroína da Jane tem que ser mais ou menos igual a ela mesma.
Também gosto muito da Marianne, a personagem da Kate Winslet. Até porque eu adoro a Kate Winslet e ela adora a Jane Austen, então é tudo elas por elas.
O capitão não-lembro-o-nome é outro personagem excelente, porque o ator é o professor Snape, do Harry Potter - que depois vai fazer um par romântico com a Emma Thompson em Simplesmente amor. Ele é muito classudo e aquele sotaque, oh my...! Mas, ele não é o mocinho, por isso não é um personagem tão carismático. Aliás, uma coisa que eu acho muito triste a respeito desse livro - e que os outros não têm - é que o final é meio resignatório para a Marianne, que acaba tendo que abrir mão da paixão (ela é o "Sentimento" do título), em busca de alguma razão.
O fraco do filme, inclusive, é o mocinho, nada mais nada menos que o rei, ou melhor, o primeiro ministro das comédias românticas, Hugh Grant - alguém que perde muito carisma quando deixa de ser canalha. Enfim, a aptidão austenística do nosso querido chuchuzinho é o que lhe rendeu o papel em "O diário de Bridget Jones", lutando na lama com o nosso outro bilu-bilu do filme a seguir.
Orgulho e Preconceito:
Não assisti. Mas vi a bunda do Colin Flirth - suspiro! - em um vídeo no youtube, o que faz deste meu segundo austenfilme preferido.
A versão mais recente de Orgulho e Preconceito é quase boa. Escrevi largamente sobre ela, em tom de cólera, no meu outro blogue. Como eu ia dizendo a respeito de Razão e Sentimento, vocês devem se lembrar, as heroínas da Jane Austen são tiazonas, encalhadas, esquisitas - vejam bem as semelhanças com a protagonista deste filme, Keira Knightley, anoréxica, modelo da Chanel, 20 anos. Idêntico, né? Aliás, Keira tem as manhas de estragar filmes inestragáveis such as Piratas do Caribe, em que o Johnny Depp faz todo o trabalho sozinho. Graças a deus ela resolveu que isso não é mais trabalho pra ela. Eu também acho.
Mas, Pride and Prejudice, pra conseguir não ser estragado pela magrela, tem que ter muitas qualidades. E tem. Uma delas é o Mr Darcy, um ator desconhecido que opera fenomenalmente o tão conhecido pela crítica "efeito Darcy". Primeiro você odeia, depois não sabe porque a Lizzie gosta, e depois, ah... oh, Mr Darcy!... Estamos todas suspirando. Já vi isso acontecer diante dos meus olhos muitas vezes e inclusive, i dear say, também comigo.
Bom, além do mocinho, as personagens secundárias são muito boas, principalmente o Mr Bingley, que na minha imaginação não foi melhor.
Mansfield Park:
Primeira reação: loira peituda protagonista da Jane Austen? Como assim? Segunda reação: beleza, é dentuça.
Esse Mansfield Park é muito melhor - corre à boa pequena - que aquele outro, onde a mocinha se transforma em uma rebelde abolicionista. Aliás, nem vi e não me faz falta essa outra versão absurda.
Todos os atores são estreantes, e o filme é meio baixo orçamento, mas às vezes é melhor que essas pretenciosas adaptações roliudianas.
Emma:
Cara, se tem alguém que eu odeio mais que a Keira e a Julia Roberts juntas é a Gwyneth Paltrow. E se tem alguma coisa pior do que ela é ela mais jovem. Emma é uma personagem bem diferente da Jane Austen, porque é aquela mocinha rica arrogante que normalmente humilha suas heroínas. Não é tão carismática, mas o jogo está realmente aí. É lógico que quem escreveu o roteiro não entendeu nada, principalmente porque pra eles não era tão esquisito ver alguém humilhar os outros por causa da sua condição social. Se não deu pra sacar durante o filme - que tem um tom de pilhéria e um mal gosto evidentes -, é só dar play nos extras e ouvir os comentários do imbecil que é este diretor. Outra coisa óbvia é que os atores não leram o romance e frequentemente caracterizam a Jane Austen como escritora de comédia.
Resumir este filme em uma palavra: eca.
Bônus: Becoming Jane
Vocês já repararam que todos as adaptações tem essa faixinha no meio, com o título do filme? Já escrevi sobre isso também, é um fenômeno! tão ou quase maior do que o de roliúde achar que a Anne Hathaway pode fazer todos os papéis da humanidade. E é curioso, também, que nessa Era de atores se trasformarem nos seus personagens, como a Piaf, o Capote, o Jim Morrison, a semelhança da diabo veste prada com a nossa querida dramaturga seja tão... indireta.
O clube de leitura de Jane Austen:
Taí um filmezinho precioso. Pra quem é fã e/ou já passou por todo esse percurso penoso das adaptações janesísticas, O clube de leitura da Jane Austen é um excelente engodo para continuar pensando e sonhando com o universo ficcional que a autora produziu. Não vou contar mais nada, fica de surpresa.
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3 comentários:
adorei os bilus bilus heheheh
e o texto todinho!
quel, vc esqueceu de comentar outra adaptação de emma: clueless!
ai, adorei o cartaz desse filme!
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