quarta-feira, 3 de setembro de 2008

3::grandes republicações

Na tentativa de chegar à essência da pergunta "o que é uma comédia romântica?" e talvez também ter uma pista de por que a Julia Roberts ganha tanto dinheiro, há uns anos eu publiquei o seguinte post no meu blogue. I hope you'll enjoy it.

Ele é um cara legal com um monte de problemas. O maior deles o leva a deixar a sua casa e viajar para algum outro lugar que não inspira muitas perspectivas. Atolado de trabalho e frustrações outras, ele mal repara na mulher dubiamente interessante que encontra no caminho. Ela é: bonita de uma forma esquisita, o cabelo meio desgrenhado e o corpo mal vestido; atrapalhada, mas perspicaz, conduz diálogos de nada naturalistas que o fazem sorrir, sem querer; solteira, é claro, possivelmente esta condição envolve um grande segredo – em suma, as respostas para os problemas dele.

O encontro deles tem uma boa probabilidade de ser, literalmente, um acidente. Afinal, todo mundo derrama o café ou desequilibra no metrô precisamente em cima de um grande galã.

Meus avós se conheceram em um ponto de ônibus, meus pais eram vizinhos, meu namorado lutava tai-chi. Acho que é assim com o amor mundano: sans glamour.

Certo, depois ter os problemas resolvidos pela pura força do amor, ele fica em dúvida: larga a vida perfeita, a noiva loira, os convites (já pagos) do casamento para dividir a vida com essa perfeita estranha? Afinal, o que eu faria no lugar dele, pensa, dramaticamente, o espectador, cheio de expectativa (com o perdão do trocadilho). É a parte do filme em que vem a lição de vida. Ecce:

*Aviso de spoiler*

Em “Forças do destino”, Ben Affleck descobre que a vida não é feita de momentos em que alguém se sente completo, mas daquilo que tem relevância no dia-a-dia.

Em “Tudo acontece em Elizabethtown”, Orlando Bloom descobre que a vida não tem de ser necessariamente feita do cotidiano que nos oprime, mas dos grandes momentos em que somos inteiros.

Em “As pontes de Madison”, aprendemos que, qualquer que seja a sua resposta para um dilema, ela está errada.

Em “Ela é demais”, “Nunca fui beijada” e “Grease”, o importante é trocar as suas roupas: isso faz de você uma pessoa melhor.

“Cidade dos anjos”: se você vai largar a imortalidade angelical por uma vida ordinária do lado do seu amor, verifique se ela tem a mesma consideração.

Em “Abaixo o amor“ e “Dez coisas que eu odeio em você”, devemos esquecer o quanto odiamos uma pessoa e parar para pensar no potencial que temos, eventualmente, de amá-la.

“Titanic” se você conhece, no navio, um cara que se diz o rei do mundo, e afirma que você está voando, são sinais ancestrais e inequívocos de uma hecatombe iminente.

Em “Don Juan de Marco”, tudo é uma questão de julgamento: se você conhece um cara que parece o Johnny Depp que quer se passar por um lorde espanhol, mas tem um péssimo sotaque, ele provavelmente é louco.

Em “Armadilha”, aprendemos que, o que quer que façamos de importante, sempre haverá alguém para reparar nas nossas bundas.

“Uma linda mulher” te ensina a nunca mais ver um filme da Julia Roberts que não seja “Closer”.

“Closer”não te ensina nada.

Em “Simplesmente amor”, fica finalmente declarado que o verdadeiro primeiro ministro do Reino Unido sempre foi e vai continuar sendo – ainda que secretamente – Hugh Grant.

“Ligações perigosas”: a perversão não compensa.

“Ghost – do outro lado da vida”: fazer vasos não é sexy.

“Segundas intenções parte 2” são terceiras intenções.

Já “Brilho Eterno de uma mente sem lembranças” grita “Por favor, não pinte o seu cabelo de azul quando tiver na fossa: provavelmente, você nunca mais o terá de volta, nem em 10 anos, quando você já tiver limpado sua memória em uma empresa obscura de nome latino”.

“Meu primeiro amor, parte 1”: em um filme sem o Zé Colméia, abelhas são, necessariamente, perigosas.

“Meu primeiro amor, parte 2”: piche não é divertido.

“O diário de Bridget Jones”: dietas estão em baixa, o legal é usar calcinha de vó.

“Quatro casamentos e um funeral”, qualquer semelhança com outra comédia do Hugh Grant não é mera coincidência.

“O diário de Bridget Jones – parte 2”, qualquer semelhança com outra comédia do Hugh Grant não é mera coincidência.

“Um grande garoto”, qualquer semelhança com outra comédia do Hugh Grant não é mera coincidência.

“Um lugar chamado Notting Hill”, qualquer semelhança com outra comédia do Hugh Grant não é mera coincidência.

“Letra e música”, qualquer semelhança com outra comédia do Hugh Grant não é mera coincidência.

“Alta fidelidade” grandes trilhas sonoras não fazem grandes filmes.

“Mais estranho que a ficção” não tenha sua vida narrada pela Emma Thompson, ingleses são muito dramáticos.

“Razão e sentimento” – o melhor é um meio termo entre os dois, os ingleses são muito dramáticos.

“Rambo” - não existe amor no Afeganistão. O subtítulo deveria ser: há uma diferença semântica entre afago e afegão.

Em “Orgulho e Preconceito”, o século XIX, na Inglaterra, era realmente divertido, mas procurar marido demais causa anorexia.

“Chocolate”: se você se apaixonar pelo Johnny Depp e ele por você, coma chocolate.

“Doce novembro”: Carpe Diem, na verdade, é sobre a iminência da morte.

“Por uma vida menos ordinária” – não deixe Deus se meter nos seus negócios.

Em “A bela adormecida” aprendemos a utilidade real da escova de dentes.

“Amores Brutos” é uma propaganda de airbags.

“Procura-se Amy” te ensina muitas coisas, e eu não tenho teorias sobre ele.

Em “Volver”, descobrimos como disfarçar um parricídio, caso o grande amor não seja bem o que parece.

Em ”Piratas do Caribe 3– no fim do mundo”, se o amor da sua vida faz um estranho pacto com forças marinhas dominadas por uma deidade batizada como uma banda paraense, não se aflija: em dez anos, depois de ter um filho quase órfão, você vai parecer exatamente como quando você tinha 17.

“Extermínio” e “Madrugada dos mortos”: quando o seu amor virar um zumbi, por favor, não hesite em matá-lo, mesmo que carregue o seu filho.

3 comentários:

lili disse...

muito bom! depois a gente pode fazer posts mais detalhados sobre os mais especiais...!

júlia disse...

meu deus que extenso compêndio incrível da história universal, quel!

vina apsara disse...

pois é, eu sou um Diderot do século XXI.